PERDA DE CARGA EM FLUIDOS INCOMPRESSÍVEIS

RELATÓRIO DE EXPERIMENTOS

Marcos Portnoi

 

Sumário

Objetivos

Introdução

Parte Experimental

Preparativos para a Prática

Influência da Vazão Sobre a Perda de Carga

Influência do Diâmetro do Tubo sobre a Perda de Carga

Cálculo da Rugosidade do PVC

Comentários Finais

Referências Bibliográficas

 

Objetivos

Este relatório pretende descrever experimentos realizados com água percorrendo um sistema de tubos de PVC. Com medições de pressão, objetiva-se: (a) verificar a influência do diâmetro do tubo sobre a perda de carga, (b) verificar a influência da vazão sobre a perda de carga, (c) calcular a rugosidade do PVC e comparar com o valor tabelado e (d) discutir os resultados obtidos de acordo com os conceitos teóricos de escoamento dos fluidos.

Introdução

O sistema usado para estudos e experimentos de perda de carga em escoamento de fluidos incompressíveis consistiu em um tanque de água, uma bomba de circulação de água e quatro opções de tubulações, com diâmetros nominais ½", ¾", 1" e 1 ½". A vazão é medida através de um rotâmetro em LPM (litros por minuto). A medição da perda de carga nos trechos de tubulação é feita através de um tubo em "U" invertido, para coleta das diferenças de pressão.

A perda de carga, basicamente, consiste em uma perda energética no escoamento, que aparece como uma diminuição da pressão no escoamento a jusante. A energia dissipada pode converter-se em calor para o próprio fluido.

Esta perda de carga, chamada hL, é relacionada na equação de Bernoulli da seguinte forma:

(1)

A perda de carga pode ser calculada segundo diferença de pressões, se a altura e velocidades do escoamento em 1 e 2 forem iguais.

(2)

A perda de carga é função do comprimento do duto, da rugosidade do material que compõe o duto, da velocidade do escoamento, do diâmetro do duto e do tipo do escoamento. Para o escoamento laminar,

(3)

onde L é o comprimento do tubo, D é o diâmetro, V é a velocidade do escoamento e Re é o número de Reynolds, conforme a equação abaixo.

(4)

onde D e V são as variáveis definidas acima, ρ é a massa específica e µ é a viscosidade do fluido. Para o escoamento turbulento, a perda de carga é:

(5)

Esta é a chamada Equação de Darcy, e o fator de fricção, f, por ela definido, é o Fator de Darcy. O fator de Darcy pode ser obtido no Diagrama de Moody ou ainda calculado analiticamente segundo a Equação de Colebrook:

(6)

onde ε é a rugosidade do tubo (motivo de cálculo dos experimentos aqui relatados).

Parte Experimental

Preparativos para a Prática

Mediu-se os diâmetros internos dos quatro tubos, utilizando-se de um paquímetro e de pedaços dos mesmos tubos usados na montagem do aparato de experimentos.

Tubo ¾": 20,50mm

Tubo ½": 15,40mm

Tubo 1": 25,70mm

Tubo 1 ½": 38,4mm

À saída da bomba há um rotâmetro, ou medidor de vazão. Uma forma de calibrar-se este medidor consiste em marcar um tempo fixo (num cronômetro) e medir então a quantidade ou volume de água que sai da bomba. Uma outra forma é estipular um volume fixo e então medir o tempo que a bomba consome para completar tal volume de controle. As duas formas resultarão na vazão. Nenhum procedimento deste tipo foi tomado, entretanto, e tomou-se as medições de vazão conforme indicadas pelo rotâmetro.

Influência da Vazão Sobre a Perda de Carga

Conectou-se o tubo em "U" invertido no tubo de ¾". Para dez vazões diferentes, mediu-se as alturas de líquido no tubo em "U". A diferença de pressão entre os pontos 1, 2, 3 e 4 é obtida segundo o princípio da estática dos fluidos.

Ilustração 1: Tubo em "U" invertido para medição de pressões.

A coluna 1 é conectada a montante (entrada do escoamento) e a coluna 4 é conectada a jusante (saída do escoamento). Entre os tubos 2 e 3 há uma válvula para escape de fluido preso, ou ainda para alívio do acúmulo de ar. Desprezando-se a massa específica do ar, a equação usada para diferença de pressão entre os pontos de entrada em 1 (P1) e saída em 4 (P4) é:

(7)

O gráfico da perda de carga versus vazão está abaixo.

Ilustração 2: Gráfico para tubo de 3/4".

Vê-se que a curva é do tipo potência, com expoente de aproximadamente 2. Ou seja, a perda de carga varia com o quadrado da vazão. O gráfico log x log é:

Ilustração 3: Gráfico logxlog para tubo de 3/4".

Observa-se que a reta para o gráfico logxlog é linear, com inclinação de aproximadamente 2. Isso é coerente com a Equação de Darcy, para o caso de f ser aproximadamente constante. No Diagrama de Moody, verifica-se que para a variação do número de Reynolds no experimento, o fator de Darcy varia em alguns pontos na potência de 10-4, o que pode ser considerado praticamente constante.

As Tabelas abaixo trazem os dados coletados para os quatros diâmetros de tubo.

Tubo 3/4"

20,50

mm

L=184cm

h1 (cm)

h2 (cm)

h3 (cm)

h4 (cm)

Vazão (LPM)

hL (J/Kg)

V (m/s)

Re

28,5

0,0

0,0

26,5

7,5

0,196

0,38

7765

19,0

0,0

0,0

16,5

10,0

0,245

0,51

10354

15,5

0,0

0,0

9,5

12,5

0,588

0,63

12942

19,0

0,0

0,0

11,5

15,0

0,735

0,76

15531

40,0

0,0

0,0

26,5

17,5

1,323

0,88

18119

26,0

0,0

0,0

11,5

20,0

1,421

1,01

20708

57,0

0,0

0,0

33,5

22,5

2,303

1,14

23296

36,5

0,0

0,0

16,5

25,0

1,960

1,26

25885

61,5

0,0

0,0

38,5

27,5

2,254

1,39

28473

63,0

0,0

0,0

27,5

30,0

3,479

1,52

31062

Tabela 1: Dados coletados para tubo 3/4".

Tubo 1"

25,70

mm L=183,5cm

h1 (cm)

h2 (cm)

h3 (cm)

h4 (cm)

Vazão (LPM)

hL (J/Kg)

V (m/s)

Re

46,0

0,0

0,0

35,5

30,0

1,029

0,96

24777

40,0

0,0

0,0

30,5

27,5

0,931

0,88

22712

25,5

0,0

0,0

20,0

25,0

0,539

0,80

20647

19,0

0,0

0,0

14,5

22,5

0,441

0,72

18583

16,5

0,0

0,0

12,5

20,0

0,392

0,64

16518

33,0

0,0

0,0

30,0

17,5

0,294

0,56

14453

32,0

0,0

0,0

29,0

15,0

0,294

0,48

12388

38,5

0,0

0,0

37,0

12,5

0,147

0,40

10324

36,0

0,0

0,0

35,0

10,0

0,098

0,32

8259

34,0

0,0

0,0

33,0

7,5

0,098

0,24

6194

Tabela 2: Dados coletados para tubo 1".

Tubo 1/2"

15,40

mm L=183,0cm

h1 (cm)

h2 (cm)

h3 (cm)

h4 (cm)

Vazão (LPM)

hL (J/Kg)

V (m/s)

Re

32,0

0,0

0,0

29,5

7,0

0,245

0,63

9648

40,0

0,0

0,0

27,5

10,0

1,225

0,89

13783

40,0

0,0

0,0

28,0

15,0

1,176

1,34

20674

86,5

0,0

0,0

27,0

20,0

5,831

1,79

27566

101,0

2,5

20,0

21,0

21,0

9,555

1,88

28944

77,5

13,0

11,0

17,0

17,0

5,733

1,52

23431

64,0

19,2

6,8

10,5

10,5

4,028

0,94

14472

Tabela 3: Dados coletados para tubo 1/2".

Tubo 1 1/2"

38,40

mm L=182,5cm

h1 (cm)

h2 (cm)

h3 (cm)

h4 (cm)

Vazão (LPM)

hL (J/Kg)

V (m/s)

Re

24,5

0,0

0,0

24,5

27,5

0,0

0,40

15201

50,0

0,0

0,0

50,0

30,0

0,0

0,43

16582

40,5

0,0

0,0

40,5

25,0

0,0

0,36

13819

Tabela 4: Dados coletados para tubo 1 1/2".

Vejamos os gráficos perda de carga versus vazão dos tubos 1" e ½".

Ilustração 4: Perda de carga versus vazão para tubo 1".

Ilustração 5: Perda de carga vesus vazão para tubo 1/2".

Verifica-se que, em vazões elevadas, apenas duas colunas de líquido para medição de pressão são insuficientes no caso do tubo de ½". Nestas vazões, as colunas rapidamente se enchem (sinal de alta pressão dentro do tubo) e não é possível realizar as medições. Toma-se então o sistema com quatro colunas de fluido. Entretanto, como pode-se observar no gráfico, os dados medidos apresentam dispersão mais evidente, o que resulta num expoente para a vazão de cerca de 2,7. Também a perda de carga é maior que para os outros tubos, o que é coerente com a equação de Darcy (a variável diâmetro está no denominador). Ainda, pela observação do número de Reynolds, o escoamento pelo tubo de ½" entra em níveis de turbulência mais elevados que os outros.

Observa-se, finalmente, que o tubo de 1 ½" não apresentou perda de carga. Isso não é coerente com a teoria, pois, mesmo que, devido ao maior diâmetro, este tubo mostrasse perdas de carga menores, elas ainda deveriam ser mensuráveis. A investigação mostrou ser esse problema resultado da montagem do sistema de tubos e do ponto de tomada de pressão. Como mostra a Ilustração 6, o fluido percorre tubos de diâmetro menor até entrarem no tubo de 1 ½". Logo no ponto de aumento de diâmetro, é feita a tomada de pressão.

Neste ponto, entretanto, o escoamento ainda não se desenvolveu completamente, e está ali sujeito a turbulência provocada pelo aumento súbito de diâmetro e cantos vivos. Este problema seria solucionado com o deslocamento do ponto de tomada de pressão mais a jusante do aumento de diâmetro.

Ilustração 6: Tomada de pressão no tubo 1 1/2" (região de turbulência).

Influência do Diâmetro do Tubo sobre a Perda de Carga

O gráfico abaixo mostra a perda de carga máxima de cada tubo versus o diâmetro em metros.

Ilustração 7: Perda de carga versus diâmetro.

A curva obtida, mesmo com a perda de carga zero erroneamente encontrada para o tubo de 1 ½", revela uma relação de potência do tipo y=kxn, onde n<0. Com efeito, segundo a Equação de Darcy, considerando o fator f constante, a perda de carga varia com quinta potência inversa do diâmetro. Senão, vejamos:

Conforme demonstrado, a perda de carga é proporcional a D-5, para uma vazão Q constante. O gráfico seguinte mostra a relação log-log da perda de carga versus diâmetro (excluindo o tubo de 1 ½", onde a perda de carga foi zero), segundo o experimento.

Ilustração 8: Perda de carga versus diâmetro (log-log).

Verifica-se aqui uma reta com inclinação de -4,3159, que seria o expoente do diâmetro nesta relação com a perda de carga. O valor, pois, aproxima-se da proporção teórica, calculada anteriormente, com precisão razoável.

O erro pode ser fruto das medições incorretas obtidas com o tubo de 1 ½", e ainda das dificuldades de medição com o tubo de ½", que pode ter gerado números imprecisos. Além disso, somente sete medidas foram coletadas para este último tubo, e nenhuma na vazão máxima da bomba.

Cálculo da Rugosidade do PVC

A rugosidade de cada tubo de PVC pode ser calculada tomando-se a perda de carga com a máxima vazão e o número de Reynolds. Aplicando-se a perda de carga na Equação de Moody, sabendo-se V, D e L, obtém-se o fator f. No Diagrama de Moody, com o número de Reynolds, encontra-se a curva ε/D apropriada. Obtém-se assim a rugosidade. Senão vejamos:

Tubo ¾":

Tubo 1":

Tubo ½":

Tubo 1 ½": cálculo não pode ser feito, pois hL foi zero.

Os erros, comparados com o valor tabelado do PVC de 0,0021mm, são:

Rugosidade

Tabelado

Erro

0,1230

0,0021

5757,14%

0,1028

0,0021

4795,24%

0,0308

0,0021

1366,67%

Tabela 5: Erros das rugosidades calculadas.

Os erros foram bastante elevados, portanto. O experimento não mostrou-se eficiente a ponto de permitir o cálculo da rugosidade dos tubos de maneira precisa.

Comentários Finais

Apesar de que o cálculo da rugosidade do PVC com os dados obtidos do experimento não se mostrou satisfatório, o experimento foi útil na demonstração da influência da vazão e do diâmetro do tubo sobre a perda de carga.

A visualização da diminuição de pressão a jusante devido a perda de carga, bem como os efeitos sobre ela quando da regulagem da vazão, em tempo real, contribuiu para o entendimento deste fenômeno e para a aplicação das equações de Darcy e uso do Diagrama de Moody.

 

Referências Bibliográficas

BELLO, Sergio; LOBO, Paulo. Análise Gráfica de Dados Experimentais. Material didático do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica, UNIFACS. Salvador, 1999. Mimeo.

BELLO, Sergio. Perda de Carga em Fluidos Incompressíveis: Roteiro de Prática. Material didático do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica, UNIFACS. Salvador, 2001. Mimeo.

FOX, Robert W.; McDONALD, Alan T. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 4. edição. Rio de Janeiro, LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1995. p. 253 a 285.

MUNSON, Bruce R. et al. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. vol II, versão SI, tradução da 2. edição americana. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda., 1997. p. 64 a 67.